Concepção artística de um buraco negro (NASA).
Em 1704, em sua obra Optiks, Newton sugeriu que a luz era
formada de partículas, cujo movimento poderia ser explicado pela mecânica
desenvolvida por ele. Ainda no século XVII, entretanto, o holandês Christian
Huygens defendeu a ideia de que a luz seria uma onda, como o som.
Seria justo pensar que, no caso da luz ser formada de
partículas, elas seriam atraídas pela gravidade. Assim, a luz deveria ter uma
velocidade mínima para “fugir” de um determinado campo gravitacional, como
todos os outros corpos – tal velocidade é conhecida como velocidade de escape.
A da Terra, por exemplo, é de 11 km/s.
No século XVII, Roemer chegou a um valor finito para a
velocidade da luz: 225.000 km/s (o valor aceito atualmente é de 300.000 km/s).
Uma das consequências de a luz ter uma velocidade finita seria que, se
existisse no Universo um objeto cuja densidade provocasse uma velocidade de
escape maior que a da luz, seria impossível que ela saísse da sua atração
gravitacional. Se esse objeto fosse uma estrela, a luz gerada por ela voltaria
para si própria, e se a olhássemos da Terra, veríamos apenas uma região negra
no espaço.
A primeira descrição explícita de tal proposta pode ser
creditada a John Michell (1783). O marquês de Laplace, de maneira independente,
descreveu tal fenômeno nas duas primeiras edições de seu livro O Sistema do
Mundo. Nas edições seguintes, no entanto, deixou essa proposta de fora – muito
provavelmente devido à bem sucedida experiência do inglês Thomas Young, que
demonstrou o caráter ondulatório da luz.
Em 1915, Albert Einstein publicou sua Teoria da Relatividade
Geral, TRG, que, entre outras coisas, prevê que a luz deveria sofrer desvios ao
se aproximar de campos gravitacionais intensos, como o provocado pelo Sol. A
suposta comprovação dessa hipótese ocorreu em 1919, quando foram feitas
fotografias durante um eclipse solar na cidade cearense de Sobral.
Apenas um ano depois da publicação da TRG, Karl
Schwarzschild utilizou essa teoria para obter soluções matemáticas que
apontavam para o que hoje pode ser chamado de buraco negro. Inicialmente, este
resultado não convencia o próprio Einstein; pare ele, a solução obtida não
tinha uma realidade física.
Em 1939, o norte-americano Robert Oppenheimer usou a TRG
para descrever o que aconteceria com a luz em um campo gravitacional intenso o
suficiente para provocar seu desvio: ao passar por uma estrela bem mais densa
que o Sol, a luz seria encurvada em direção à ela. Quando a densidade da
estrela fosse grande suficiente, a trajetória da luz seria tão perturbada em direção
à estrela que ela não conseguiria mais escapar deste campo gravitacional,
ficando “aprisionada” dentro dele ao atravessar uma espécie de fronteira. Esse
limite de aproximação de um corpo celeste é conhecido como horizonte de
eventos, termo cunhado em 1950 pelo austríaco Wolfgang Rindler.
Como, de acordo com a Teoria da Relatividade Restrita, TRR,
de Einstein, publicada em 1905, nada pode viajar mais rápido que a luz, então
nenhum corpo poderia fugir deste tipo de campo gravitacional; tudo que passasse
pela vizinhança da estrela seria tragado por seu incrível poder de curvar o
espaço-tempo.
Como nada poderia sair de dentro do campo gravitacional,
quando a região em questão fosse observada da Terra, nós veríamos apenas um
espaço escuro – o termo buraco negro, entretanto, só seria cunhado em 1969,
pelo norte-americano John Wheeler.
Muito se aprendeu sobre esses objetos celestes desde o
artigo de Michell, inclusive que eles são mais comuns do que poderiam imaginar
os pioneiros em sua proposta de existência. Recentemente, um satélite mapeou
uma pequena região do céu e identificou mais de 1.500 candidatos a buracos
negros.
Nem todos os buracos negros são iguais. Eles podem ser
divididos em dois grupos, dependendo de sua origem e massa: os buracos negros estelares
- com massas de até sete vezes a massa do nosso Sol - e os supermaciços, que se
acredita estarem no centro de galáxias e possuírem massa da ordem de milhões de
vezes a massa do Sol.
Para entender a origem dos buracos negros estelares, temos
que retornar à década de 1930. No fim desta década, o alemão Hans Bethe propôs
um possível mecanismo para a grande quantidade de energia liberada pelo Sol e
outras estrelas - tal mecanismo hoje é conhecido como fusão nuclear. A grosso
modo, consiste na fusão de átomos menores (como os de hidrogênio) em átomos
maiores (como os de hélio), liberando, como resultado, a energia que recebemos
do Sol e das outras estrelas.
As estrelas se mantêm estáveis durante um bom tempo, apesar
de sua massa tender a se colapsar devido à atração gravitacional. Este colapso
só não ocorre porque a energia liberada pelas reações de fusão equilibra a
força gravitacional. Porém, quando o nível de hidrogênio diminui além de um
limite, começa a haver um desequilíbrio entre as duas forças.
Quando uma estrela não faz parte de um sistema binário ou
múltiplo, seu destino só depende de sua massa inicial. Se ela estiver entre 0,8
e 10 vezes a massa do nosso Sol (massa solar), quando o combustível diminui até
um ponto crítico, a estrela se expande na forma de uma super gigante, ejetando
grande parte de sua massa em uma nebulosa planetária. O que resta é conhecido
como anã branca, um corpo com massa da ordem de 0,6 massas solares e raio em
torno de 10.000 km.
Quando a massa inicial da estrela é de 10 a 25 massas
solares, após o seu hidrogênio diminuir até o ponto crítico, a estrela explode
em uma supernova. O que fica em seu lugar é chamado de estrela de nêutrons, que
tem massa de aproximadamente 1,4 vezes a massa do Sol e raio na ordem de 20 km.
Finalmente, quando a massa da estrela inicial for maior que
25 vezes a massa do Sol, após explodir em uma supernova, ela se torna um buraco
negro estelar – que tem sua origem em uma estrela muito maciça. Este tipo de buraco
negro tem massa de até 7 vezes a massa do Sol e seu horizonte de eventos é da
ordem de 1 km.
A descrição física dos buracos negros e dos efeitos causados
por eles no espaço-tempo pode ser vista com detalhes no artigo Buracos nem tão
negros assim, escrito por Felipe Damasio e Sabrina Moro Villela Pacheco, do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. O texto,
publicado na Física na Escola, v. 10, n. 1, 2009, apresenta uma abordagem
histórica dos conceitos relacionados aos buracos negros, desde as primeiras
ideias sobre o tema até as recentes descobertas do cientista inglês Stephen
Hawking e as atuais pesquisas no LHC. Entre as curiosidades encontradas no
artigo, uma fábula que ensina como resgatar uma pessoa de um buraco negro!
Fonte:
http://pion.sbfisica.org.br/pdc/index.php/por/Artigos/Buracos-negros
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